Apetece perguntar: o que raio se passa em Alvalade? Em quatro jogos de pré-temporada, um deles com a Juventus, o Sporting alcançou quatro vitórias, com apenas um golo sofrido (e mesmo esse apenas devido à genialidade intemporal de Del Piero). Ontem, no primeiro jogo em casa, o Sporting já perdia por 3-0 ao intervalo.
Há muito que acho que os jogadores leoninos entram em Alvalade nervosos e com medo, perante um público que nos últimos dois anos foi pródigo em assobios e apupos aos que vestem a camisola verde e branca. E se, algumas vezes, esses assobios eram justificados, raras foram as vezes em que surgiram no momento mais indicado. Nesse sentido, ontem voltaram a ouvir-se vários apupos impacientes desde muito cedo no jogo. Num jogo que era o de apresentação aos sócios e onde, apesar da triste exibição, era crucial os adeptos demonstrarem que os jogadores iriam poder contar com eles o resto da época. Mostraram em números (os perto de 49 mil espectadores são uma das melhores casas já vistas em Alvalade) mas, em termos de apoio, nem todos estiveram à altura.
Quis o destino que o jogo de ontem desse razão ao meu primeiro post neste blog. Escrevi aqui precisamente sobre o facto da euforia desmesurada que surgiu à volta desta equipa ser muito perigosa para o trabalho de Domingos e companhia.
O Valência deu-nos uma lição. A todos. A Domingos, mostrando que ainda há muito trabalho pela frente, em todos os sectores da equipa. Aos jogadores, mostrando-lhes que é diferente ter pela frente selecções de jogadores da segunda divisão da Holanda e equipas "a sério" da Europa. Aos adeptos, porque lhes serviu para descer à terra e ver que, afinal, estar melhor não significa estar bem.
Espero sinceramente que também tenha servido de lição a alguns dirigentes, que infelizmente percebem tanto de futebol como Pinto da Costa percebe de "jogo limpo". Recordo em particular as declarações de um certo senhor, segundo o qual os rivais do Sporting, muito em breve, só já seriam os Barcelonas e Reais Madrid dessa vida, com todos os outros clubes - Porto e Benfica inclusive - a não serem equipas à altura do leão. Afinal, bastou o Valência...
Importa agora que a derrota sirva para evoluir. No que toca à equipa, não tenho grandes dúvidas que se vai aprender com ela. Na primeira época no Braga, Domingos foi precocemente eliminado da Europa, com um equipa que não estava à altura dos bracarenses. Chegou a ser contestado. A resposta veio com uma época em que o Braga só não foi campeão porque teve pela frente um super Benfica, apoiado em jogadores de outro planeta, como Ramires e Di Maria.
Preocupa-me sobretudo a parte dos adeptos. Especialmente aquela franja que ontem regressou ao estádio pela primeira vez em dois anos e que, face à pequena "traição" que lhes foi concedida pelos jogadores em campo, poderão voltar a desanimar e a deixar novamente Alvalade com assistências pouco dignas.
Nesse sentido, apesar de só agora escrever este post (propositadamente, preferi deixar passar a "ressaca" da derrota, para a poder analisar de forma mais fria), foi ainda ontem que vi um dos melhores comentários ao Sporting-Valência. João Rosado, jornalista do Expresso, disse na SIC Notícias que, há pouco mais de uma semana, quando o Sporting venceu a Juventus, não estava no ponto 80. Tal como agora, perante o desaire frente ao Valência, não está no ponto 8.
A verdade é que o actual Sporting está situado algures entre o 8 e o 80. Cabe à equipa, treinador e dirigentes, trabalhar para se aproximarem do 80. E cabe aos adeptos continuarem a apoiar e a dar espaço para que o leão possa voltar ao patamar de outrora.
A derrota de ontem pode muito bem ter sido o que de melhor nos aconteceu antes do início do campeonato...
PS - Gostei da actuação de Ricardo Costa, pelo Valência. Mas fiquei com dúvidas sobre o outro português: aquilo era mesmo o Miguel, ou um texugo pintado a cores escuras?
